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Medicina de Família e Acupuntura
CRM 171.381 SP - 30.958 DF
 

Dra Renata Serra

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How deep is your...SONO?

  • Foto do escritor: Renata Serra
    Renata Serra
  • 30 de set.
  • 8 min de leitura

Atualizado: 4 de out.


pessoa dormindo

Por Que o Sono é Tão Importante?

O sono é um pilar fundamental da saúde. Dormir bem é tão essencial quanto se alimentar de forma saudável ou praticar exercícios físicos. Algumas pessoas, no entanto, negligenciam a qualidade do seu descanso, normalizando uma rotina de noites mal dormidas e dias cansativos. As queixas que chegam ao consultório de um especialista em medicina do sono geralmente se dividem em três grandes grupos:


  1. Dormir pouco ou mal: A sensação de que não se consegue iniciar ou manter um sono reparador.

  2. Sentir muito sono durante o dia: Uma sonolência excessiva que interfere nas atividades diárias.

  3. Movimentos anormais durante o sono: Um campo mais complexo, geralmente investigado pela neurologia, que inclui condições como parassonias, bruxismo e crises convulsivas noturnas.


1. "Pingando de sono durante o dia": As Causas da Sonolência Excessiva

A queixa de sonolência excessiva durante o dia se enquadra no que chamamos de "síndrome do sono insuficiente". Embora existam causas muito raras, como as hipersonias centrais (narcolepsia), cerca de 90% dos diagnósticos se concentram em duas condições principais.

  1. Privação de Sono: Esta é a principal causa de sonolência no mundo. Ocorre simplesmente quando a pessoa não tem a oportunidade de dormir o número de horas que seu corpo necessita.

  2. Apneia do Sono: A segunda causa mais comum de sonolência excessiva, caracterizada por interrupções na respiração durante o sono.


2. Apneia do Sono: O Ladrão Silencioso do Descanso

2.1. O que é Apneia do Sono?

A apneia do sono é uma condição extremamente comum, mas frequentemente subdiagnosticada. Ela fragmenta o sono e impede um descanso verdadeiramente reparador, gerando consequências para a saúde que vão muito além do cansaço. É definida como uma pausa respiratória durante o sono. A gravidade é medida pelo Índice de Apneia-Hipopneia (IAH), na Polissonografia, que conta o número de eventos por hora de sono:

  • Normal: Até 5 eventos por hora.

  • Leve: Entre 5 e 15 por hora.

  • Moderada: Entre 15 e 30 por hora.

  • Grave: Acima de 30 por hora.

O mecanismo básico da apneia obstrutiva envolve um bloqueio transitório do fluxo de ar. Isso gera um microdespertar, acompanhado de um disparo de adrenalina, para forçar a retomada da respiração. Esses eventos podem ocorrer dezenas ou até centenas de vezes por noite, sem que a pessoa perceba conscientemente.


2.2. Tipos de Apneia

Existem dois tipos principais de apneia, com causas e implicações distintas:

  • Apneia Obstrutiva do Sono: É o tipo mais comum, causado por uma obstrução física da via aérea superior. As estruturas da garganta relaxam e "fecham" temporariamente, impedindo a passagem do ar.

  • Apneia Central do Sono: Ocorre por uma falha no comando cerebral para respirar. Não há obstrução física; o cérebro simplesmente deixa de enviar o sinal para os músculos respiratórios. Geralmente, a apneia central é um marcador de mau prognóstico e está associada a doenças neurológicas (como AVC), cardiovasculares ou pneumopatias graves.


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2.3. Sinais e Sintomas: Como Identificar?

A apneia obstrutiva possui um perfil de risco e sintomas clássicos que ajudam na sua identificação.

  • Perfil clássico de maior prevalência: sexo masculino, acima de 60 anos, obesidade.

  • Sintomas Comuns:

    • Ronco alto e persistente.

    • Sonolência diurna ou fadiga crônica.

    • Apneias observadas por outra pessoa (engasgos ou pausas na respiração).

    • Cefaleia matinal (dor de cabeça leve ao acordar que melhora em até uma hora).

    • Nictúria (acordar várias vezes para urinar).

    • Despertares com sensação de sufocamento.

    • Declínio cognitivo transitório (dificuldade de memória e concentração).

    • Boca seca ao acordar.


2.4. Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico definitivo da apneia do sono é realizado através da polissonografia. Existem diferentes tipos de exame:

  • Tipo 1 e 2: São os exames mais completos, realizados em laboratório (Tipo 1) ou em casa com equipamento montado no laboratório (Tipo 2). São capazes de diferenciar os tipos de apneia (obstrutiva ou central) e diagnosticar outros transtornos.

  • Tipo 3 (Poligrafia Respiratória): Exame domiciliar mais simples. Sua sensibilidade é menor por duas razões principais: 1) ele não sabe o tempo real que o paciente dormiu, apenas o tempo em que o aparelho esteve ligado, o que pode diluir o IAH e gerar um falso-negativo; 2) ele não capta bem as hipopneias (reduções do fluxo de ar, não pausas completas). Se o resultado vier muito alterado, confirma o diagnóstico; se vier baixo, não o exclui.

  • Tipo 4 (Oximetria/Biologix): Mede a oxigenação durante a noite. É útil para confirmar casos óbvios ou para o acompanhamento do tratamento.


A decisão de tratar a apneia, especialmente em casos moderados, depende de três fatores: o IAH, a gravidade dos sintomas e, crucialmente, o tempo que o paciente passa com baixa oxigenação no sangue durante a noite, pois este é um marcador de risco cardiovascular futuro.

O tratamento visa manter a via aérea aberta durante o sono. As principais abordagens são:

  • CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas): É o tratamento de primeira linha e o mais eficaz. Consiste em um aparelho que envia um fluxo de ar contínuo através de uma máscara, impedindo o fechamento da via aérea.

  • Perda de Peso: Medida fundamental, pois a redução da gordura na região do pescoço pode diminuir ou até resolver a apneia em alguns casos.

  • Aparelho de Avanço Mandibular: Dispositivo intraoral que projeta a mandíbula para a frente, aumentando o espaço da via aérea. É uma opção para casos leves a moderados.

  • Cirurgia: Indicada para um nicho muito específico de pacientes, como crianças com amígdalas muito grandes ou adultos com alterações anatômicas claras que justificam a intervenção.

  • Outras Terapias: A fonoterapia pode ajudar a fortalecer a musculatura da garganta, sendo um tratamento coadjuvante. Produtos como tiras nasais podem ajudar a reduzir o ronco, mas não tratam a apneia do sono, que geralmente é um problema mais baixo na via aérea.


3. Privação de Sono: A Epidemia da Vida Moderna

A privação de sono é a causa mais comum de sonolência diurna e, como o nome sugere, ocorre pela falta de oportunidade para dormir o suficiente.


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3.1. Você Dorme o Suficiente?

A necessidade de sono é individual, mas para um adulto, a faixa de normalidade varia de 6 a 10 horas por noite. Uma dica prática para identificar a privação de sono é a "regra das duas horas".

Se você precisa dormir mais de duas horas extras nos fins de semana para compensar o sono perdido durante a semana, você provavelmente está em privação de sono.

Para descobrir sua necessidade real de sono, a melhor estratégia é medir quantas horas você dorme naturalmente durante a segunda semana de férias (um período em que você já pagou a dívida de sono inicial e não tem compromissos com horários rígidos). Esse número é a sua meta diária de descanso.


3.2. Por que Estamos Dormindo Menos?

Na prática clínica, duas situações se destacam como causas frequentes de privação de sono:

  1. Atraso de Fase do Sono: É o hábito de "empurrar" o horário de dormir para mais tarde, muitas vezes devido ao uso de telas (TV, celular, computador). Isso cria uma dessincronização entre o relógio biológico e o horário em que a pessoa precisa acordar, resultando em menos horas de sono.

  2. Trabalhador de Turno: É uma condição complexa que desregula o ciclo circadiano de forma crônica. Não possui uma solução simples e exige acompanhamento especializado, pois o impacto na saúde a longo prazo é significativo.


3.3. Tratamento: Existe Remédio?

A resposta é direta: o único tratamento para a privação de sono é dormir mais. O uso de psicoestimulantes não é uma solução, pois, no fim, o sono sempre ganha. A dívida de sono se acumula e pode levar a cochilos involuntários e perigosos, como ao dirigir.

Para o atraso de fase, o tratamento é comportamental, focado em restabelecer a higiene do sono e os horários. Nesses casos específicos, a melatonina pode ser uma ferramenta útil para ajudar a reajustar o relógio biológico.


4. "Não Consigo Dormir": Entendendo a Insônia

A insônia é a outra grande queixa relacionada ao sono e é definida por critérios muito específicos. Não se trata apenas de "dormir mal".


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4.1. O que Realmente é Insônia?

Para que um quadro seja diagnosticado como insônia, três critérios obrigatórios devem ser atendidos:

  1. Dificuldade em iniciar o sono, manter o sono (vários despertares) ou um despertar muito antes do horário desejado.

  2. A dificuldade ocorre mesmo quando há oportunidade e um ambiente adequado para dormir (diferente da privação de sono).

  3. Presença de repercussões durante o dia, como fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração ou mau humor.


4.2. As Múltiplas Faces da Insônia

A insônia crônica pode ter diversas causas, e identificar a origem é crucial para o tratamento correto.

  • Insônia Comórbida: É a mais comum e está associada a outros problemas de saúde, como transtornos psiquiátricos (ansiedade, depressão) ou condições clínicas (dor crônica, refluxo gastroesofágico, problemas de próstata).

  • Insônia por Higiene do Sono Inadequada: Causada por maus hábitos que interferem nos mecanismos naturais do sono: o Processo S (o acúmulo de cansaço ao longo do dia) e o Processo C (o condicionamento do corpo para dormir em determinados horários e ambientes).

  • Insônia Psicofisiológica: De forma direta, é como ter um transtorno de estresse pós-traumático com a própria cama. A pessoa fica tão ansiosa com a possibilidade de não dormir que o quarto e a cama, em vez de serem gatilhos para o relaxamento, tornam-se gatilhos para a ansiedade e a vigília.

  • Insônia Paradoxal: É a condição em que a pessoa dorme, mas tem a percepção de que não dormiu. O exemplo clássico é o paciente com fibromialgia que relata dormir apenas uma ou duas horas por noite há anos, mas se mantém funcional. Uma polissonografia mostra que o sono de fato ocorreu, mas a percepção subjetiva do descanso está quebrada.


4.3. Como Tratar a Insônia Corretamente

O tratamento da insônia segue uma hierarquia clara, e medicamentos não são a primeira opção para casos crônicos.

  • Primeira Linha (O Padrão-Ouro): Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-i). É um tratamento específico, com começo, meio e fim (geralmente cerca de 10 sessões), conduzido por um psicólogo treinado. A TCC-i é mais eficaz que os medicamentos a longo prazo, pois ensina ao paciente habilidades para gerenciar o sono por conta própria.

  • Medicamentos: O uso de remédios deve ser criterioso.

    • Insônia Aguda: Em situações pontuais (como uma internação), indutores de sono como o Zolpidem ("drogas Z") podem ser usados por um período muito curto (dias a poucas semanas).

    • Insônia Crônica: O tratamento medicamentoso visa tratar as causas subjacentes. São utilizadas outras classes de medicamentos (como Trazodona, Mirtazapina). Se a insônia é movida por ansiedade, um benzodiazepínico pode ser considerado (sob estrita supervisão e por curto prazo), pois ele atua tanto na ansiedade quanto no sono. As "drogas Z", como o Zolpidem, são puramente hipnóticas e não tratam a ansiedade de base. O uso prolongado de indutores de sono não é recomendado devido ao risco de dependência e efeitos colaterais.


Alerta Crítico sobre o Zolpidem: Este medicamento exige precauções rigorosas. Nunca, em nenhuma circunstância, tome o remédio e vá fazer outra coisa. Você deve tomá-lo e ir imediatamente para a cama. Realizar outras atividades pode levar a parassonias complexas (sonambulismo), com comportamentos perigosos dos quais a pessoa não se lembrará no dia seguinte. Além disso, recomenda-se que a caixa do medicamento não deve ser mantida na cabeceira ou no quarto. Guarde-a em outro cômodo, como a cozinha, para evitar que, num despertar noturno, você tome uma segunda dose por impulso.


Conclusão: Não Normalize o Sono Ruim!

Sentir sono o tempo todo ou lutar todas as noites para conseguir dormir não é normal. Essas condições têm um impacto significativo na sua saúde física, mental e na sua qualidade de vida. Em vez de recorrer à automedicação, que pode mascarar o problema real e trazer riscos, procure um médico especialista em sono. Um diagnóstico correto é o primeiro passo para um tratamento eficaz e para recuperar o prazer de ter uma boa noite de descanso.

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